quinta-feira, 31 de maio de 2012

Bem vindo ao meu Webfólio!



Este blog foi criado no âmbito da disciplina de Português para ajudar os alunos a compreender melhor a matéria.

Eu, como aluno, resolvi criar um pois também é um dos nossos elementos de avaliação.

Espero que gostem!

Modernismo em Portugal





O Modernismo em Portugal desenvolveu-se aproximadamente no início do século XX até ao final do Estado Novo, na década de 1970.

O marco inicial do Modernismo em Portugal foi a publicação da revista Orpheu, em 1915, reunindo famosas figuras como Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiro. A revista Orpheu foi muito influenciada pelas grandes correntes estéticas europeias, como o Futurismo e o Expressionismo e surge com o grande objectivo de irritar e escandalizar a burguesia.

Fernando Pessoa



Fernando Pessoa foi um poeta e escritor português, considerado um dos maiores poetas de Portugal e até mesmo da literatura universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões.

Nasceu a 13 de Junho de 1888, em Lisboa e aos seis anos foi para a África do Sul. Aí aprendeu perfeitamente o inglês, língua em que escreveu poesia e prosa desde a adolescência. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Graças ao seu domínio desta língua, Fernando Pessoa traduziu várias obras inglesas para português e obras portuguesas para inglês.

Aos 17 anos parte para Lisboa, para frequentar o curso de Letras, mas acaba por abandonar os estudos, dedicando-se a vastas leituras de filosofia e poesia. Sempre levou uma vida modesta.

A sua obra é altamente intelectualizada. As suas primeiras poesias foram publicadas em 1915 na revista Orfeu, uma importante revista do Modernismo.
Muitas das suas obras ficaram inéditas durante a sua vida, pois o seu talento era apenas reconhecido pelos círculos limitados da boémia literária de Lisboa.

Morre a 30 de Novembro de 1935, aos 47 anos.

Pessoa Ortónimo



- Características Temáticas
. Identidade perdida
. Consciência do absurdo da existência
. Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sonho/realidade
. Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão
. Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção
. Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço, desespero, frustração.
. Inquietação metafísica, dor de viver
. Auto-análise
- Características Estilísticas
. Musicalidade: aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom nasal (que conotam o prolongamento da dor e do sofrimento)
. Verso geralmente curto (2 a 7 sílabas métricas)
. Predomínio da quadra e da quintilha (utilização de elementos formais tradicionais)
. Adjectivação expressiva
. Linguagem simples mas muito expressiva (cheia de significados escondidos)
. Pontuação emotiva
. Comparações, metáforas originais, oxímoros (vários paradoxos – pôr lado a lado duas realidades completamente opostas)
. Uso de símbolos (por vezes tradicionais, como o rio, a água, o mar, a brisa, a fonte, as rosas, o azul; ou modernos, como o andaime ou o cais)
. É fiel à tradição poética “lusitana” e não longe, muitas vezes, da quadra popular.
. Utilização de vários tempos verbais, cada um com o seu significado expressivo consoante a situação.
. Utilização de diversas figuras de estilo, como o Hipérbato, a Metáfora, a Aliteração e a Antítese.

Poema de Pessoa Ortónimo



















ISTO

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Significado de Heteronímia



Heteronímia é o estudo dos heterónimos, ou seja, o estudo de autores fictícios que possuem personalidade. Não se deve confundir Heterónimo com Pseudónimo, pois este último não possui uma personalidade individual. O criador de um heterónimo é chamado de "ortónimo". O maior e mais famoso criador de heterónimos é Fernando Pessoa, criador de Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos, entre muitos outros.

Alberto Caeiro




"Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso."

Alberto Caeiro é considerado o mestre ingénuo dos heterónimos e do próprio Fernando Pessoa.

A sua poesia é ligada à natureza, e despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, pois afirma que pensar obstrui a visão ("pensar é estar doente dos olhos"). Afirma que, ao pensarmos, entramos num mundo complexo e problemático onde tudo é inserto e obscuro. Apresenta-se como um simples "guardador de rebanhos" que só se importa em ver a realidade de forma objectiva e natural. É um poeta de completa simplicidade, e considera que a sensação é a única realidade.

Características Formais

Estilo discursivo.
Pendor argumentativo.
Transformação do abstracto no concreto, frequentemente através da comparação.
Predomínio do substantivo concreto sobre o adjectivo.
Linguagem simples e familiar.
Liberdade estrófica e métrica e ausência de rima.
Predomínio do Presente do Indicativo.
Raro uso de metáforas.

Poema de Alberto Caeiro


Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.



Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.



Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Ricardo Reis



Ricardo Reis é mais um famoso heterónimo de Fernando Pessoa. Foi imaginado pelo poeta em 1913 após ter decidido escrever poemas de índole pagã. Este heterónimo nasceu no Porto, estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e expatriou-se espontaneamente desde 1919, na sequência da derrota da rebelião monárquica do Porto contra o regime republicano, indo viver para o Brasil. É um latinista por educação, e um semi-helenista por educação própria.

Reis é um discípulo de Alberto Caeiro, e admira a serenidade e a calma com que este encara a vida, por isso procura atingir a paz e o equilíbrio sem sofrer, utilizando duas doutrinas gregas: o Epicurismo e o Estoicismo.

Epicurismo

Segundo o Epicurismo, o ser humano deve procurar a ausência de dor e de sofrimento e aceitar a morte, sem receio. O Epicurismo também faz uma apologia à procura do prazer moderado, da calma, da ataraxia e do carpe diem horaciano.

Estoicismo

O Estoicismo defende a ideia de que o cosmos é uma unidade única e que funcionava de forma cíclica. Segundo esta doutrina, o sábio deve-se conformar com a Natureza e não lutar contra ela. O Estoicismo apela à indiferença face aos bens materiais e defasa do seguimento das seguintes virtudes: discernimento, coragem, justiça e autodomínio. Este último permite a aceitação do cosmos, do destino e da morte inexorável. Defende também a fundação de uma comunidade humana e da igualdade de oportunidades para todos os seres humanos (universalismo).

Aspectos Formais

- Uso de vocabulário erudito e preciso;
- Recurso a arcaísmos;
- Formas estróficas e métricas de influência clássica - Ode;
- Influência latina através da anástrofe e do hipérbato;
- Predomínio da subordinação;
- Uso frequente de advérbios de modo;
- Recurso ao gerúndio;
- Uso do imperativo como manifestação de atitude filosófica;
- Diálogo permanente como um "tu" - coloquialidade.

Poema de Ricardo Reis




Quero dos deuses só que me não lembrem.
Serei livre — sem dita nem desdita,
Como o vento que é a vida
Do ar que não é nada.
O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos,
Cada um com seu modo, nos oprimem.
A quem deuses concedem
Nada, tem liberdade.

Álvaro de Campos



Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente "um impulso para escrever". É um discípulo de Caeiro, mas Pessoa considera-o como o extremo oposto de Ricardo Reis.

Nasceu em Tavira, a 15 de Outubro de 1890, teve uma educação vulgar de liceu e estudou engenharia mecânica e naval em Glasgow, na Escócia.

Para Campos, a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. Isto é algo que foi aprendido de Caeiro, mas para Campos, não basta «a sensação das coisas como são», este procura também a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma, "sentir tudo de todas as maneiras".

É vanguardista e cosmopolita, espelhando o seu perfil particularmente nos seus poemas, em que exalta em tom futurista a civilização moderna e os valores do progresso.

Procura incessantemente "sentir tudo de todas as maneiras", seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. Celebra também, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

Características Formais

- Verso livre, em geral, muito longo;
- Assonâncias, onomatopeias, aliterações;
- Grafismos expressivos;
- Mistura de níveis de língua;
- Enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva;
- Desvios sintáticos;
- Estrangeirismos, neologismos;
- Subordinação de fonemas;
- Construções nominais, infinitivas e gerundivas;
- Metáforas ousadas, oxímoros, personificações, hipérboles;
- Estética não aristotélica na fase futurista.

Poema de Álvaro de Campos



A Praça

A praça da Figueira de manhã,
Quando o dia é de sol (como acontece
Sempre em Lisboa), nunca em mim esquece,
Embora seja uma memória vã.

Há tanta coisa mais interessante
Que aquele lugar lógico e plebeu,
Mas amo aquilo, mesmo aqui ... Sei eu
Por que o amo? Não importa. Adiante ...

Isto de sensações só vale a pena
Se a gente se não põe a olhar para elas.
Nenhuma delas em mim serena...

De resto, nada em mim é certo e está
De acordo comigo próprio. As horas belas
São as dos outros ou as que não há.

Álvaro de Campos, in "Poemas"

Luís Vaz de Camões



Luís Vaz de Camões foi um dos maiores vultos da literatura da renascença, sendo considerado o poeta português mais completo da sua época, ou até mesmo de toda a literatura de língua portuguesa.

A sua obra mais conhecida é a epopeia nacionalista Os Lusíadas.

Morreu na maior das pobrezas em 10 de Junho de 1580.

Resumo - Camões, Poeta pelo Mundo em Pedaços Repartido



Pouco se sabe sobre Camões. Presume-se que tenha nascido em Lisboa à volta de 1524 e que pertencia a uma família da pequena nobreza, tendo estudado em Coimbra.
Atraiu-se por Lisboa e deixou os estudos na sua juventude, trocando-os pelo ambiente da corte de D. João III, onde ganhou a fama de bom poeta.
Segue para Ceuta por volta de 1549 e fica lá até 1551.
Volta a Lisboa e regressa à vida boémia. Envolve-se numa rixa e é preso no tronco da cidade, sendo libertado mais tarde e de seguida embarca para a Índia na armada de Fernão Álvares Cabral.
Em 1554 embarcou na armada de D. Fernando de Meneses que patrulhou o Mar Vermelho, onde se inspirou para a canção “Junto de um saco, fero e estéril monte”. Passado algum tempo é nomeado “provedor-mor dos defuntos nas partes das China”.
Na viagem de regresso, por volta de 1558, naufraga na foz do rio Mekong, e apenas consegue salvar o manuscrito de Os Lusíadas.
Em 1567 vem para Moçambique, onde foi encontrado na pobreza por Diogo do Couto.
Chega a Lisboa e consagra todos os cuidados à impressão da epopeia. A sua publicação em 1572 fê-lo melhorar a sua vida em termos monetários. Devido à tragédia da batalha de Alcácer Quibir, Camões morre deprimido a 10 de Junho de 1580.

Os Lusíadas - Visão Global


Os Lusíadas surgem como uma epopeia das façanhas dos portugueses nos mares que os levaram à Índia, invocando a imortalidade dos navegadores portugueses pelos seus feitos históricos. 

Trata-se de uma obra que conta por fragmentos a grandiosa história de Portugal, enaltecendo, através da narrativa, as façanhas e o espírito do povo português.

Na sua estrutura interna, a obra tem forma de epopeia clássica, dividindo-se em quatro partes, nomeadamente: proposição (apresentação do assunto), invocação (súplica de inspiração para escrever o poema), dedicatória (oferecimento da obra a D. Sebastião) e narração (desenvolvimento do assunto, já a meio da acção).

Quanto à estrutura externa, trata-se de uma narrativa em dez cantos, organizado em oitavas, com versos decassilábicos e rimas cruzadas nos primeiros seis versos e emparelhadas nos dois últimos.

O poema desenvolve-se em quatro planos, a saber: plano da viagem, que é o plano central, o plano da história de Portugal (plano encaixado), o plano da mitologia, tratando-se do plano paralelo e o plano do poeta (plano ocasional).

Os Lusíadas são muito mais do que a viagem maritimae história portuguesa, pois revelam também o espírito do homem da Renascença que acredita na experiência e na razão, enaltecendo a capacidade dos portugueses.

Os Lusíadas - Mitificação do Herói



Na obra de Camões temos um herói colectivo, o Povo Português, constituído pelas “armas e barões assinalados”, pelos Reis e pelos navegadores, destacando a inteligência ao ludibriarem os deuses na sua viagem, a coragem e a valentia, ultrapassando as ciladas de Baco e do Adamastor e que permitiu a heroificação de Vasco da Gama, para alem de ter vencido o mau agoiro preconizado pelo “Velho do Restelo”.

Vencidas todas as etapas, os portugueses merecem descanso, que decorrerá na Ilha dos Amores, simbolizando a recompensa pela heroicidade, a satisfação dos sentidos e a harmonia do Universo, sendo mitificados e tornando-se Deuses.

Os Lusíadas - Reflexões do Poeta: críticas e conselhos aos Portugueses



Em Os Lusíadas, Luís Vaz de Camões faz diversas considerações, no fim dos Cantos da sua epopeia, quer criticando, quer aconselhando os portugueses, fazendo a apologia da expansão territorial para a divulgação da Fé cristã, bem como manifestando o seu patriotismo através da exortação a D. Sebastião.

Faz também louvores e queixa-se dos comportamentos, pelo que se por um lado realça o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio, por outro lamenta que os Portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à eloquência, no que concerne às letras e à sua importância.

Se por um lado enaltece o povo português por comparação com os outros, povo que chegou a todos os cantos do mundo, critica porém todos aqueles que com cobiça, ambição desmedida e a tirania pretendem alcançar a imortalidade, já que em nada valorizam o homem, criticando assim fortemente o dinheiro, fonte de corrupção e de traições.

Mensagem - Estrutura e valores simbólicos



O livro Mensagem foi o único livro que Fernando Pessoa publicou em vida, datando de 1934 e tratando-se de um poema épico-lirico, de carácter introspectivo, expressando os sentimentos do “Eu”, exaltando os heróis portugueses. É um poema que apela ao patriotismo, à nostalgia e à regeneração, através da figura de El Rei D. Sebastião.

É constituída por 44 poemas, agrupados em 3 partes, nomeadamente, sobre a evolução do Império português (nascimento, realização e morte); a primeira parte retrata o sentido simbólico e messiânico do poema, a segunda o domínio dos mares e a expansão e a terceira o Quinto Império.

Apresenta também uma estrutura tripartida, sinonimo de perfeição e mistério. A primeira parte (Brasão) é constituída por 19 poemas, dando ênfase aos heróis e construtores do Império, simbolizando o nascimento da Pátria; a segunda, denominada “Mar Português”, é constituída por 12 poemas, contendo uma visão messiânica da história, com base em Deus, tendo o homem como interlocutor e a obra como efeito, simbolizando a vida adulta da Pátria; finalmente, a terceira parte (O Encoberto), é composta por 13 poemas, encontrando-se tripartida entre os símbolos (esperança e “sonho” português), os avisos (3-espaços de Portugal) e os tempos (5-a ânsia e a saudade do Salvador que há-de regressar para levantar, construir o Quinto Império, numa perspectiva moral e civilizacional), tratando-se de um reino de liberdade, de natureza cultural e linguística, livre de fronteiras geográficas ou politicas, tendo Portugal como o centro e pólo dinamizador desse império.

Concluindo, trata-se de um poema que retrata a decadência de Portugal mas simultaneamente assente numa esperança em um novo ciclo, de um recomeço, de uma exortação ao povo português de forma a fazer ressurgir a grandeza do País, da Pátria.

Mensagem - O Sebastianismo e o mito do Quinto Império



A temática do sebastianismo é abordada por Fernando Pessoa como um mito, expressando a necessidade de um povo que tem de voltar a acreditar nas suas capacidades, porquanto encontrar-se moribundo ( o Pais – Portugal); invoca pois a necessidade de voltar nos valores que fizeram com que Portugal fosse um Pais de Conquistadores, através dos mares, uma potencia. Baseia pois esse regresso no simbolismo de D. Sebastião, associando-o ao seu próprio regresso, na qualidade de desejado, para criar o Quinto Império, um império de afirmação e glória para Portugal.

Mensagem - Relação intertextual com Os Lusíadas




Mensagem não é um poema nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética de Os Lusíadas. O que seria uma exaltação de valores nacionais converteu-se numa exortação renovadora e corajosa a D. Sebastião (vivo – Os Lusíadas – ou como mito – Mensagem).

Os Lusíadas foram dedicados a um povo guerreiro e a um Rei aventureiro, em Mensagem, esse mesmo Rei está humilhado e despido de coisas humanas, por isso, consideramos que toda a História, toda alegria, toda emoção, toda aventura e toda glória descrita, em Os Lusíadas constitui uma esperança e em Mensagem.

Como Prado Coelho afirmou, “Em contraste com o realismo d’Os Lusíadas (…) a Mensagem reage pela altiva rejeição a um «Real» oco, absurdo, intolerável, propondo-nos em seu lugar a única coisa que vale a pena: o imaginário”.


Luís de Sttau Monteiro



Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro foi um escritor português do século XX que escreveu algumas obras importantes, como a peça Felizmente Há Luar!, que vamos estudar neste ano lectivo. Esta peça foi publicada em 1961 e foi galardoada com o Grande Prémio de Teatro, mas a sua representação foi proibida pela censura de Salazar. Morreu em 23 de Julho de 1993.

Felizmente Há Luar! - Acção



A obra recria, em dois actos, a tentativa frustrada de revolta liberal de Outubro de 1817, reprimida pelo poder absolutista do regime de Beresford e Miguel Forjaz, com o apoio da Igreja, ao mesmo tempo que chama a atenção para as injustiças da política no tempo de Salazar, nos anos 60 do século XX, existe, assim, um paralelismo entre duas épocas.

A acção centra-se na figura do general Gomes Freire de Andrade e da sua execução e nesta há que destacar a defesa da liberdade e da justiça. Como consequência desta defesa, os conspiradores são presos e isto provoca o sofrimento das personagens e desperta a compaixão do espectador. Ao longo da obra existe um crescendo trágico, representado pelas diversas tentativas desesperadas para obter o perdão; isto acaba com a execução pública do general Gomes Freire e dos restantes presos. Este desfecho trágico conduz a uma reflexão purificadora que os opressores pretendiam dissuasora, mas que despertou os oprimidos para os valores da liberdade e da justiça.

Felizmente Há Luar! - Espaço e vestuário das personagens



As referências ao espaço estão presentes nas didascálias e nas falas das personagens.

Acto I

- Ruas da cidade de Lisboa;
- Palácio dos governadores;
- A casa do general para os lados do Rato;
- O botequim do Marrare;
- Uma loja maçónica, na rua de S. Bento.

Acto II

- Ruas da cidade;
- Casa do general;
- Gabinete de Beresford;
- Casa de D. Miguel (entrada);
- Serra de Sto. António;
- Forte de S. Julião da Barra

No espaço social desta obra observamos um espaço de contrastes que permite o confronto entre o poder e o povo.

O povo é caracterizado através de um vestuário reduzido que denuncia a sua miséria, enquanto que os poderosos apresentam um guarda-roupa cuidado de acordo com o seu estatuto social e rodeados por um cenário de riqueza.

Felizmente Há Luar! - Personagens


Felizmente Há Luar! - Paralelismo entre o passado representado e as condições históricas dos anos 60: denúncia da violência e da opressão

Esta peça tem como cenário o ambiente político dos inícios do século XIX, onde existe uma conspiração encabeçada por Gomes Freire de Andrade, que pretendia o regresso do Brasil do rei D. João VI e que estava contra a presença dos ingleses em Portugal; esta ao ser descoberta foi reprimida com muita severidade: os conspiradores foram queimados publicamente e Lisboa foi convidada a assistir.

Pelo conteúdo fortemente ideológico da obra, vê-se claramente que Luís de Sttau Monteiro marca uma posição e denuncia a opressão vivida na época em que escreve a obra, em 1961, precisamente na ditadura de Salazar.

Com a distanciação histórica e a descrição das injustiças praticadas no passado em que decorre a acção, o autor colocou também em destaque as injustiças do seu tempo e a necessidade de lutar pela liberdade.

Percebe-se facilmente que a estória serve de pretexto para uma reflexão sobre os anos 60, do século XX. 




Felizmente Há Luar! - Valores da liberdade e do patriotismo



Felizmente Há Luar!
mostra-nos claramente a censura e a falta de liberdade de acção, pensamento e expressão que se viveu no século XIX. É uma metáfora para a sociedade da época em que foi escrita, em pleno século XX, no regime de Salazar.

O patriotismo é evidente em Gomes Freire de Andrade, que luta pela honestidade e justiça até às últimas consequências e é um mártir da resistência.

Felizmente Há Luar! - Aspectos Simbólicos



Os tambores - a peça termina com o som de tambores em fanfarra crescendo em intensidade. Estes tambores amedrontam os populares mal os ouvem à distância e tocam em fanfarra em momentos decisivos, como o anúncio da prisão e o fim da execução de Gomes Freire, representam a repressão.

A moeda de cinco reis - ao princípio representa a esmola, o auxílio humilhante que os poderosos dão aos que nada têm. Manuel, numa atitude de revolta, manda dar a esmola a Matilde, mas arrepende-se pois sabe que ela não merece este tipo de humilhação. Por outro lado, Matilde ao pedir-lha está a assumir a sua culpa por não ter compreendido a real situação dos populares.
Quando a moeda é atirada por Matilde aos pés do Principal Sousa, esta passa a símbolo da traição da Igreja, o eco das moedas que Judas recebeu pela entrega de Cristo. Na peça comprova-se que também o Principal Sousa traiu os valores cristãos pelo poder.

A saia verde - é oferecida a Matilde pelo seu amado para quando voltassem a Portugal mas nunca tinha sido utilizada, talvez porque o país nunca lhe tivesse dado motivos de esperança. Esta é a saia que ela planeia usar quando Gomes Freire voltar para casa, mas acaba por a vestir no momento da execução do marido, simbolizando a esperança no futuro.

A fogueira e o clarão - a fogueira destruiu Gomes Freire e a conspiração, a hipótese de mudança. Mas esta destruição fez com que todo o horror fosse exposto, fazendo com que as pessoas abram os olhos e reforcem o desejo de lutar por um Portugal melhor. O valor redentor e purificador do fogo converte o final de morte num final de esperança, e o clarão é a luz da liberdade que se anuncia.

O luar - para D. Miguel a luz do luar simboliza a opressão necessária para manter o país submisso, mas para Matilde simboliza o início do fim do obscurantismo em que o país está mergulhado. Estes dois pontos de vista comprovam-se quando as personagens fazem referência ao título da peça e dizem "Felizmente há luar!".

José Saramago



José Saramago foi um escritor português muito importante. Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998 e também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, que é considerado o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Publicou inúmeras obras importantes, como Ensaio sobre a Cegueira e Memorial do Convento. Muitos consideram que Saramago foi o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. Morreu em 18 de Junho de 2010, com 87 anos.

Memorial do Convento - Narrador



O narrador é o estruturador do texto. A principal função do narrador é a apresentação dos factos. Mas isto não o impede de manifestar a sua opinião própria em relação à narração, às personagens, ao tempo ou ao ambiente social presente.

Em Memorial do Convento observamos um narrador que se assume como a voz que está de fora e conta a história com apartes e comentários, esta voz é distanciada, impessoal e intemporal e tem marcas de oralidade, chegamos a pensar até que está a contar a estória em voz alta. Isto torna-o omnisciente. Mas este também adopta o olhar das personagens por vezes, e vê a realidade pelos seus olhos, a isto chama-se focalização interna.

Verificamos assim que o narrador é detentor de um vasto conhecimento que lhe permite controlar a acção e as personagens.

Memorial do Convento - Estrutura



A análise de Memorial do Convento permite verificar que existem duas narrativas em simultâneo: uma de carácter histórico - a construção do convento de Mafra - e outra de carácter fictício - a construção da passarola que faz parte da história de amor entre Baltasar e Blimunda.

A acção principal diz respeito à construção do convento, mas nesta encaixam-se outras acções, constituindo diferentes linhas de acção que se articulam com a primeira.

1ª linha de acção: Rei D. João V - Envolve todas as personagens da família real e está relacionada com a segunda linha de acção, pois a promessa do rei é que vai possibilitar a construção do convento. A corte e o convento são os espaços principais desta linha de acção.

2ª linha de acção: Construtores do convento - Esta segunda linha vai ganhando relevo e une a primeira à terceira pois embora o convento seja "obra e promessa" do rei, apenas se realiza com o sacrifício dos homens, que são representados por Baltasar e Blimunda. Nesta segunda linha glorificam-se os homens que se sacrificam e passam por dificuldades, mas que também as vencem.

3ª linha de acção: Baltasar e Blimunda - Esta linha relata uma história de amor e o modo de vida do povo português. Baltasar e Blimunda são os construtores da passarola; a figura masculina é também, mais tarde, construtora do convento, constituindo-se paradigma da força que faz mover Portugal - a do povo.

4ª linha de acção: Bartolomeu Lourenço - A quarta e última linha relaciona-se com o sonho e o desejo de construir uma máquina voadora: a passarola. Articula-se com a primeira e segunda linhas de acção, pois o Padre Bartolomeu Lourenço serve como um mediador entre a corte e o povo. Também se enquadra na terceira linha pois o sucesso da passarola depende também da tarefa de recolher vontades de Blimunda.

Memorial do Convento - Dimensão simbólica/histórica



Os elementos simbólicos em Memorial do Convento são predominantes.

Título - relato de memórias; feitos memoráveis

Passarola - o sonho de voar; a leveza; a superação da condição humana

Convento e "mãe da pedra" - representa a opressão dos pobres, por parte dos poderosos; o peso da condição humana

Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas - são personagens heróicas e ligam-se os dois simbolizando o verdadeiro amor e a sua plenitude; a totalidade e a perfeição. Simbolicamente, este casal guardará os segredos dos oprimidos. Vivem um amor sem regras, natural e instintivo, ao contrário dos reis. Estão associados à simbologia da Lua e do Sol. O amor vivido entre estas personagens faz um contraste com o "amor" que é vivido entre os Rei e a Rainha.

A música - Scarlatti representa simbolicamente o transcendente que advém da música e que, ligado à clarividência de Blimunda, instaura o domínio do maravilhoso na obra.

As vontades - significam que as vontades dos homens, unidas, serão capazes de vencer a ignorância, o fanatismo, a intolerância, libertando o homem, projectando-o para uma novidade e abrindo-lhe perspectivas de um mundo diferente.








Memorial do Convento - Visão Crítica



A perspectiva do narrador em Memorial do Convento apresenta uma visão crítica da sociedade portuguesa da primeira metade do século XVIII. Com isto verificamos que a obra transpõe a classificação de romance histórico, pois não se trata apenas de uma reconstituição de um acontecimento histórico, é antes um testemunho intemporal e universal do sofrimento de um povo sujeito à tirania da corte e sociedade da altura.

Na obra predomina o tom irónico (e até mesmo sarcástico) do narrador. É descrito o comportamento leviano do rei, a sua vaidade desmedida e as promessas megalómanas de que resulta o sofrimento do povo.

O clero, que exerce o seu poder sobre o povo, também não escapa ao olhar crítico do narrador. A actuação da Inquisição é criticada ao longo do romance, nomeadamente, através da apresentação de diversos autos-de-fé e das pessoas que contemplam as fogueiras onde se queimam os condenados.

Verificamos, assim, que a crítica prevalece nas personagens de estatuto social privilegiado pois o narrador denuncia as injustiças sociais, a omnipotência dos poderosos e a exploração do povo que é evidenciada nas miseráveis condições de trabalho dos operários do convento de Mafra; isto acontece ao mesmo tempo que denota empatia face aos mais desfavorecidos, cujo esforço elogia e enaltece.

A crítica ainda se estende à Justiça portuguesa da altura, que castigava os pobres e despenalizava os ricos.

Em suma, Memorial do Convento, ao problematizar temas perfeitamente adaptáveis à época contemporânea do autor, constitui acima de tudo uma reflexão crítica, conducente a uma releitura do passado e à correcção da visão que se tem da História.

Saramago - Linguagem e Estilo



O estilo e a linguagem peculiares são as principais características que marcam a escrita de Saramago e que o diferenciam no panorama literário português. O autor procura criticar não apenas os tempos presentes, mas também os tempos passados e subverter conceitos tradicionalmente aceites na sociedade, satirizando situações e personagens e manifestando ironia nas suas narrações, servindo-se para isso de uma escrita igualmente subversiva.

A pontuação utilizada por Saramago torna a sua escrita específica e desafiante da gramática académica. Isto acontece pois Saramago pretende oferecer ao leitor a oportunidade de entoar, ele próprio, as palavras, tratando-se assim de uma leitura personalizada que contribui para a sua expressividade.

Através da utilização de figuras de estilo como a metáfora, a enumeração, a ironia e o sarcasmo na crítica social, Saramago evidencia nas suas obras uma visão "brechtiana". Isto permite-lhe satirizar a sociedade e os seus aspectos mais marcantes. De forma subtil ou mordaz, a ironia está sempre presente nas palavras do autor. Em Memorial do Convento, Saramago refere-se ao auto-de-fé, como um "churrasco", isto é uma clara evidência de crítica social, e a obra está repleta de ironias.

Concluindo, Saramago baseia-se na ideologia marxista de defesa do povo e crítica ao poder e também é céptico ao nível da religião. Utilizando o seu estilo de pontuação e de figuras de estilo peculiares, aforismos, provérbios, a coloquialidade e a intertextualidade, subverte o próprio conceito de escrita e afirma-se como um visionário na literatura, no que respeita ao estilo e à linguagem.

Conclusão



Bem, após este trabalho todo, chegaram ao fim do meu Webfólio!

Graças a este mesmo, creio que a disciplina de Português ficou mais fácil de estudar e compreender.

Quanto à matéria leccionada, achei que a gramática foi compreensível e bem estruturada. O uso de fichas e Power Point é, de alguma maneira, interactivo e isso faz com que seja mais fácil a compreensão da matéria.

Quanto às obras que estudámos, a que achei mais interessante foi Memorial do Convento devido à predominância da ironia de Saramago, o que faz com que a sua leitura seja cativante.
Em relação a Fernando Pessoa, a minha opinião é que ainda é muito cedo para estudarmos e compreendermos os seus poemas pois são muito complexos.
Não gostei de Felizmente Há Luar!, achei desinteressante, para compreender o regime de Salazar prefiro ler livros de história, mas compreendo que naquela altura o teatro era uma das maneiras de o povo se revolucionar.
Os Lusíadas são muito interessantes, mas não gostei do facto de termos de os comparar com Mensagem, embora as semelhanças sejam evidentes prefiro desfrutar da leitura sem pensar nas comparações.

Continuo a não concordar com a maneira da disciplina de Português ser leccionada, com as leituras obrigatórias; creio que devíamos ter mais criatividade e escolha no que queremos ler, e também não gosto do facto de termos de analisar as obras ao detalhe, ao ponto de nos esquecermos da própria estória. 

Mas ao menos podemos desenvolver este Webfólio, o que é uma mais valia pois podemos colocar o que quisermos aqui.

Foi uma boa experiência ter desenvolvido este Webfólio.

Espero que tenham gostado.

Vitor